Ler é fácil… Ou não?

V

ocê conhece a história: aprender a ler é fácil, fulano de tal aprendeu sozinho, Zezinho aos quatro anos já sabia ler (ou aos três, dois, um! Se bobear, já tem bebê aprendendo a ler dentro da barriga da mãe…).

Menino lendo.
Ler: um aprendizado que precisa de mediação.

Mas a realidade é bem diferente. O mais comum é ver crianças chegando ao final do Ensino Fundamental com grandes dificuldades de leitura: leem, mas não compreender… Leem aos trancos e barrancos, não conseguem gostar de ler, porque começam uma frase e quando chegam ao final já perderam o fio da meada.

Então começam os rótulos: dislexia, falta de atenção, dificuldades de aprendizagem… Sim, tudo isto existe. Mas tais rótulos, muitas vezes, mascaram a verdadeira causa do problema: uma abordagem equivocada sobre os processos que envolvem a alfabetização.

Ler é complicado.

Se fosse fácil, não teríamos tantos analfabetos, não precisaríamos de sistemas, metodologias, uma abordagem coerente para que tal competência seja adquirida.

Tudo é fácil… Depois que se sabe! Aprender a andar de bicicleta, tocar um instrumento musical, aprender uma segunda língua… Depois que o conhecimento está dominado,você acaba esquecendo o difícil caminho percorrido para atingir seu objetivo! Tudo parece natural e simples… Mas não é. Com o processo de alfabetização é a mesma coisa. Portanto, aqui vai a primeira dica: aprender a ler e a escrever faz parte da invenção humana. Não é um processo “natural”. É algo criado, desenvolvido pelo ser humano… Bem diferente de outros procedimentos que são instintivos, como mamar, chorar…

Veja o que coloca a profa. Dra. Leonor Scliar-Cabral
“Enquanto a fala é adquirida espontaneamente por qualquer criança normal (por volta dos 12 meses, ela produz as primeiras palavras), os sistemas alfabéticos têm que ser ensinados. É muito complicado refazer uma percepção automatizada durante anos de aquisição da fala. Isso só acontece quando o indivíduo toma consciência de que tem que desmanchar a sílaba: num sistema alfabético como o da língua portuguesa do Brasil, uma ou duas letras (os grafemas) representam um fonema.”

Assim, não pense que as crianças (e os adultos!) aprenderão a ler sem esforço. O que podemos fazer -o que você pode fazer- é facilitar está caminhada, e ajudar a descoberta nesta jornada fascinante. Vamos juntos empreender esta aventura. Será que existem mandamentos para ser um bom alfabetizador? Isto você verá na próxima postagem! Até lá!

Neurociencia & Alfabetização: a experiência de Lagarto

6 de julho de 2018